sábado, 14 de janeiro de 2017

A minha cadeira

Design António Laureano.
Chamámo-lo a nossa casa.
Colocámos dúvidas, ideias. Trocámos opiniões.

Pedimos que se deixasse inspirar pelos móveis que já vestiam as paredes daquela sala.
Volvidos dois ou três encontros, mostrou-nos alguns esboços. Mobiliário rectilíneo, moderno, minimalista!
Integrava-se, em tudo, no peso dos anos e história impregnados naquelas estantes de madeira antigas.

Fazíamos, sim, questão, que a história daquele local, não se afogasse naquele aparato moderno que nos era sugerido.
Conversámos. Pensámos. Acabámos por gostar.

Pedimos-lhe algum critério no trabalho.
Que o fizesse com afinco, com amor e nos trouxesse rapidamente uma mesa. Grande.
Onde pudéssemos juntar a família à volta do repasto.
E cadeiras!

Ao cabo de umas semanas, poucas, ei-las!
A mesa, completamente lisa. Tampo de vidro.
Quatro prumos em forma de pernas.
Austeros, resistentes. À antiga.
As cadeiras, um pouco menos militarizadas.
Mas igualmente aprumadas e disciplinadas como se estivessem na parada!

Este mobiliário, perene, ao longo dos anos, tem alojado muita gente.
De todas as idades. Cores e credos.
Junta-se, discretamente, às prateleiras já existentes e faz a sua própria história.
Convida poetas e pintores. Médicos e loucos. Crianças e adultos.
De tudo se tem falado. Sem tabus, sem pudores.
Discute-se amor e paixão. Sofrimento e política. Guerra e morte. Nascimento. Crenças e descrenças.
Fica sempre o rastilho para a próxima vez!

A minha cadeira, agora, tem uma almofada ortopédica.
Alta. Especial.
Calada, ouve os meus temores.
Por vezes, pede-me contenção nas palavras.
Acolhe, sem rancor, os meus anseios.
Com a tolerância de quem se deixa amolgar, aguarda paulatinamente que o tempo a transforme em memória.
Para, tal como os móveis, poder contar a história!

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