segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Noite

 No canto da minha cama

Adormeço sonhos

Azuis

Rosa

Cinza

Rezo à Virgem Maria

A Deus 

A Cristo

E a todos os santos 

Adormeço desejos enganados de esperança 

De madrugada

Quando o galo canta

Adormeço os males do mundo 

E celebro o nascer de um novo dia


quarta-feira, 10 de novembro de 2021

A prima ...

 Margarida ... a prima que alguns gostariam de ter tido.

Estava todos os dias lá, a seguir ao almoço. 

Comigo, com a minha mãe, com as minhas filhas ... sim, especialmente com elas, as meninas! 

Tinha pouco dinheiro,  e o pouco que tinha era-lhe sugado pela mãe,  com quem vivia e a quem tinha que obedecer como se fosse uma criança. 

Divorciada, de idade pouco perceptível, tinha uma filha adulta que pouco ou nada lhe ligava. A Maria.

Seca, franzina,  sem apelo nem agrado, vestia quase sempre uma saia de tecido espinhado preto e branco, que lhe caía corpo abaixo, evidenciando a falta de curvas. Na cintura, um alfinete de dama apertava o cós que lhe sobrava, com a desculpa de que perdera o botão.

À minha mãe fazia recados. Muitos.

A mim, adorava-me, como qualquer crente venera o mistério de Deus. 

Ao meu pai, escutava-o respeitosamente e colhia das suas palavras sábias alguns ensinamentos úteis. 

Com as meninas, rejubilava quando as via. Eram o seu entretenimento primeiro. Depositava nelas um carinho mal amanhado, que não soube ou pode dar à sua própria filha.

Todos os dias, antes de chegar a nossa casa, com umas parcas moedas guardadas no corpete, comprava dois pequenos chocolates para dar às meninas, que escondia (para a mãe não ver) nas palmilhas dos sapatos. Cambados de tanta velhice. 

Entrava em casa e cumprimentava todos com um ridículo mas afectuoso " Trolaró ".

Sorrateiramente fazia a boa acção do dia, satisfeita por poder dar prazer e alegria, com a dádiva dos Táxi's. Assim se chamavam os chocolates.

Hoje, volvidos muitos anos, no manto da noite recordei este episódio que me deixou nostálgica.

Sem monumentalidade.

Apenas com a certeza do afecto que somos capazes de nutrir por alguém. 

" Trolaró ".


segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Guadiana

No espelho d'água 

Vejo-me livre do mal

Despida de medo

Vestida de amor


Irrequieta

Misturo-me com a natureza

Contemplo o céu 

Espero que a noite caia

E as estrelas me beijem



segunda-feira, 25 de outubro de 2021

A vida é um teatro ...

 No palco da vida

Represento

Tudo o que digo é pouco

O nada que se evola tem muito por contar

Tudo-nada

Nada-tudo

Estranha forma de brincar com as palavras

Cénica 

Teatral 

Engenhosa

Ouço palmas que me inebriam

Conto-te tudo

Nos bastidores 

Guardo palavras íntimas numa bola de cristal

Escondida no meu peito 

P'ra que ninguém descubra o nosso

Segredo 






segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Viajo

Viajo

A vida pulsa

O céu ri-se azul

As nuvens brancas 

Lembram-me farófias

O castanho da terra ainda árida

Sepulta minhas dores

O verde das árvores 

Desperta-me a esperança 

O cinzento da estrada veloz

Leva-me a um destino certo




quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Outono

 Tamborilo na estrada da vida

As curvas e contra-curvas do imprevisto

Ao longe

Uma nuvem cinzenta

Por cima do sol na montanha

Anuncia chuva

Que rega o Outono

Por agora

Ainda dourado



sábado, 4 de setembro de 2021

A vida continua - Dedicado a Cristina Brito

 Olhos rasgados de amêndoa 

Em águas do conhecimento 

Navegam ânsia de pesquisa

Pelas  manhãs risonhas


Gotas de água salgada

Acordam corpos inertes

Mudam gestos e atitudes

Agitam-se as mentes

Para que a vida continue


sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Senhor Jesus do Carvalhal

 Encostada ao Senhor Jesus do  Carvalhal 

Acalmo anseios

Relembro momentos 

Procuro a felicidade adormecida

Espero o toque do sino

E a porta do Santuário aberta

Para que o padre se mostre 

E me veja a sorrir

Luz


terça-feira, 3 de agosto de 2021

Panorama

 A minha varanda tem sombra e sol

Cor e música

Sonho e saudade

A minha varanda tem amor e tristeza

Solidão  e vizinhança 

Estudo e ciência 

A minha varanda tem um reino de luz

Pálidas madrugadas

Noites de insónia


terça-feira, 6 de julho de 2021

Poema Vermelho (inspirado no poema de Armando Taborda de hoje)

 O poema é vermelho

O medo é  vermelho 

O diabo é vermelho 

O amor é vermelho 


O sonho é azul

O céu  é azul

O planeta é azul

A vida é arco-íris 


Contudo 

O poema é vermelho como o sangue

Enquanto o poeta quiser 


segunda-feira, 7 de junho de 2021

Sábado à noite

 Vi pirilampos a luzir 

Vi estrelas a brilhar no céu 

Vi sonhos à  porta dos meus olhos

Vi magia no universo 

Vi amor nos corações 

Vi histórias em cima da mesa

Promessas

Súplicas 

Cânticos num amanhã por devir


quarta-feira, 2 de junho de 2021

Hoje

 Acordo com música 

Malmequeres e alecrim

A luz da manhã abre-me os olhos


No quarto 

As notícias do dia despertam-me

Lá fora 

O jardim espreguiça-se


Minha alma

Sedenta de luz

Espera

Entre a ramagem 

Um sussurro do dia

Que me faça sorrir



quinta-feira, 29 de abril de 2021

Quero

Quero viver dentro do sol

Numa casa sem porta

Para entrar e sair quando quiser

E esperar a promessa do amanhã 

Contigo 

A derreter de amor


terça-feira, 27 de abril de 2021

O tempo voa

 O tempo voa

Aqui acolá 

Saltita de

Medo

Esperança 

Incerteza

Paciência 

Milagre

 Alegria

Solidão 

Optimismo 

Voa o tempo

Foge de ti


terça-feira, 13 de abril de 2021

Meio Beijo

 Reclinada no meio dia cinzento

Desenho um beijo meio rosado

Frutado pelo morango meio maduro

Que me sussurra a meia voz

A meio da salada de fruta

Hoje é Dia do Beijo


sexta-feira, 5 de março de 2021

Lisboa

O gato passeia no telhado

 O vizinho passeia na varanda 

Os meus olhos passeiam no sol


No horizonte da cidade confinada

Ouço sirenes ao longe

O dia acaba


Cansada adormeço 

Sonho ventos marés e sorrisos

Outro dia nasce


terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Amanhã


 Tu

Que te deitas comigo 

Sê clemente

Aperta-me a mão 

Liberta o stress dos meus dias 

Faz-me acreditar 

Que amanhã o céu está azul

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Milénio

 Chove música  de Mozart 

De mãos dadas dançam nossos corações

Fim do ano

Foguetes rebentam no ar

Nossas bocas crepitam desejo 

A noite continua

Sem pressa nem alvoroço 

Até que o sol nasce

E nos abraça 


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Procuro

 Procuro nos teus olhos

A paz que me foge 

Só encontro

O Inverno do meu jardim

Indiferente

À minha passagem