segunda-feira, 20 de março de 2017

Máscara

Hoje sentei-me no sofá da minha sala e olhei aquela máscara que me afrontava.
O que estaria por detrás daqueles olhos perscrutantes e sombrios?
O que quereria encobrir aquela cabeleira longa e desgrenhada?

Pensei.
Repensei.
Não conseguia encontrar algo escondido que me aliviasse a tensão.
Apenas o vento, lá fora, desviava o meu pensamento.

Levantei-me.
Coloquei uma pequena cunha de madeira na porta bambuleante e voltei a sentar-me.

Então, a máscara sorriu-me.
Vi soltar-se, daqueles olhos baixos, faíscas douradas de contentamento e alegria.

Aliei-me ao seu estádio e por fim, novamente sentada, esperei que ela me viesse confidenciar o seu segredo.
Esperei, até agora, mas nada ouvi.

Sem inquietação continuo à espera.
Simplesmente!






terça-feira, 14 de março de 2017

Calçada

Palmilho léguas e calçadas
Sem distância e sem caminho
Na ânsia de encontrar
Lenta ou rápidamente
Um sonho silencioso
Um pensamento próximo
Uma razão de existir
Uma palavra amiga
Um mistério por desvendar
Um sonho por construir

quarta-feira, 8 de março de 2017

Mulheres, vocês são todas, amorosas!

Homenagem a um amigo, que não vejo há 20 anos:

" Mulheres, vocês são todas,
  amorosas!
  Mulheres que são
  Mães.
  Mulheres que o não
  são.
  Mulheres com todos os
  nomes.
  Mulheres, vocês são todas,
  amorosas.
  Mulheres que são
  flores,
  de um jardim
  cada vez mais
  perdido.
  Mulheres, todas vocês que conquistaram
  respeito,
  reconhecimento,
  lugar próprio,
  no Universo do Mundo.
  Mulheres, vocês são todas,
  amorosas.
  Mulheres, por tudo, merecem
  ser
  felizes.
  Mulheres, neste dia,
  como homem,
  curvo-me, perante todas,
  pela dignidade
  conquistada e
  merecida,
  neste assinaladon
  Dia Internacional da Mulher! "

Poema escrito por João Matoso

segunda-feira, 6 de março de 2017

Lisboa

Continuo a fotografar
Coisas e gentes
Sítios e locais
Onde as almas
Vivas ou mortas
Sejam uma presença
E a história
Seja um pilar
Na nossa memória

sexta-feira, 3 de março de 2017

Espera

Ó Deus
Deixa-me ver-te
Na minha súplica constante

Deixa-me sentir-te
No meu clamor imenso

Deixa-me abraçar-te
Na minha vontade profunda

De te dizer cara à cara
Que solitariamente te espero
Todos os dias

quinta-feira, 2 de março de 2017

Dor Menor

O amor e a amizade são
Transversais à idade, à raça, à crença
Solidários à adversidade, ao sofrimento, à insónia

Intempestivos no modo de estar na vida
Com fortuna ou pobreza
Com cultura ou sem ela
Com palavras ou silêncios
Com dor ou incerteza
Com saudade ou solidão

O amor e a amizade vivem
Na busca agitada de uma vida por viver
Na ânsia de recordar o que já foi
Na memória, com mestria, dos seus momentos mais belos

O amor e a amizade superam
A força de sermos nós
O afastamento
O caos das palavras
A origem do livro, do quadro, da música

O amor e a amizade crescem sempre
Em lugar vazio
Em ideias convergentes
Na procura do encaixe perfeito no outro
Na viagem, na aventura
Na coragem necessária para dizer sim
Na provocação de dizer não

O amor e a amizade são
Uma sinfonia com vários andamentos
Onde a mão do indivíduo constrói
Espaços únicos, surpreendentes
Num mundo em dor menor!


quarta-feira, 1 de março de 2017

Queda

O meu coração bateu tão forte, quase me saltava pela boca.
Caí nos degraus de mármore, desamparadamente, no meu prédio.

No branco da pedra limpa, ficava a vontade de me levantar, com medo do escuro que se fazia ver.
Com medo do que pudesse advir daquele infausto momento.

Arrastei-me de rabo e consegui entrar em casa, silenciosamente.
Chorosa, clamei por ajuda, que não se fez tardar.
Cabeça atordoada, não sabia muito bem o que balbuciar.

Olhava para os joelhos com dois hematomas e tudo na minha frente, por entre lágrimas salgadas, passava vertiginosamente:

Médico, luz, sombra.
Sonho, escrita.
Som, televisão.
Vida, morte.
Amor, mistério.

Em flashes, muito rápidos, que davam vida e cor à pouca vontade de reagir.

Partilhava as emoções com quem me estava, ali, a ouvir.
Incentivava-me à contenção, mas aquelas palavras pareciam-me lúgubres, de um poema mal acabado.
Saíam em catadupas de uma boca amiga, mas nada me transmitiam naquele momento.
Apenas  a incerteza do que se estava a passar,  e a sensação de dor e medo, me perpassavam aguçadamente.

Reflectia na minha história, uma história que atravessa histórias, com belos momentos de prazer e liberdade.
Outros, de uma reflexão e interrogação intrínsecas.
E eis que a vida mais uma vez me surpreendia!
Neste momento de inquietação, resta-me apenas confirmar o diagnóstico e manter-me tranquila.

Amanhã é outro dia.
Luminoso ou não, de preferência nítido, onde possa ver os
efeitos da luz, o branco e o preto em fundo transparente, como se tudo tivesse sido gerado no nada, ou na noite!