quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Dia a Dia

 Estremunhada 

Olho de esguelha para o despertador

Tomo banho

Lavo os pecados pendentes

O dia começa sem mácula 


Cozinho pedaços de sonho 

Num misto de mau e bom humor

Coloco-os na terrina 

À espera do julgamento digestivo


Varro com as mãos enregeladas 

Raspas de vida caídas no chão 

 Sujas e dispersas

Ofereço-as ao lixo com desprezo


Lavo e estendo roupa

No ondular do vento perde-se o  cheiro a rosas

Que derramo no corpo 

Para entreter  a doença 


Volto a comer

A cozinhar

A dormir

A ler

A escrever

Finjo que o principal obstáculo do dia

... o tempo  ...

Passa depressa


À noite

O sono aumenta

Não vejo televisão 

Não cozinho

Não estendo roupa 

Não tomo banho

Embrulhada em telefonemas

Adormeço e sonho



sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Talvez

 As mãos frias

Não seguram a caneta

Rabisco linhas de vida

Enleadas nos males do mundo

E

Quase seca

Interrompe-me a escrita

Amanhã chove 

A temperatura aumenta

Talvez minhas mãos escrevam

Algo que te apaixone 


segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Rodopio


Rodopio

Horas

Dias

Semanas

Meses

O sonho avança 

Finjo não sentir a aspereza do vento

Qual vela de moinho

Em movimento 

Até à rotação  final

Vou moendo

A inquietação da vida