quarta-feira, 26 de abril de 2017

Soalho

Nestas tábuas onde me passeio para trás e para a frente, dia e noite, rangem meus sentidos húmidos, minhas emoções etéreas.

Nestas tábuas onde me deito e levanto, rangem linhas da minha vida, escondidas ao longo das juntas, que ainda se encontram por betumar.

sábado, 15 de abril de 2017

Lágrimas

Choramos por tudo e por nada
Choramos pelo medo de não sermos úteis
Choramos pelo medo de não sermos amados
Choramos pelo medo do amanhã
Choramos pelos cálculos que fazemos nos saírem gorados
Choramos  pelas vidas difíceis que não gostamos de ter
Choramos pelos Verões com noites de luar que já não nos
                                                                            aquecem a alma

Afinal por que choramos?

Choramos pela vida e pela morte
Choramos por ti, por mim e por todos
Choramos pelos bons e pelos maus
Choramos pelos resignados e pelos conflituosos
Choramos pelos heróis e pelos derrotados
Choramos pelos sorridentes e pelos taciturnos
Choramos por tudo e por nada

Até que as lágrimas cristalizem na fonte!


quinta-feira, 13 de abril de 2017

À tarde

enquanto a esfregona
lambe o rasto dos meus passos
eu,

encostada à parede branca e fria
espero que o relógio
avance lentamente,

até ao fim da viagem fantástica
que vou tecendo
ao lado de minha mãe
..

terça-feira, 4 de abril de 2017

Rua Maria da Nazaré

A árvore ao topo da Rua Maria da Nazaré , na minha aldeia, cheia de luz e de cor, vigia-me os passos.
Silenciosamente.
Rua abaixo, rua acima, quando por ali ando.
Invento passeios, crio dificuldades e lá vou caminhando com passadas, por vezes, trôpegas.
Sempre com o objectivo firme de melhorar.
Mais e mais.

Mas aquela rua também conta com a presença de casas velhas e sinistras.
Abandonadas. Em ruínas.
Onde os pássaros fazem ninhos.
Onde os gatos comem restos.
Onde os ratos entram e saem, sem pedir licença.
Onde as ervas daninhas sobem infestantes, parede a pique, na empena cega da casa de minha mãe.

Mas a árvore, agora no seu esplendor máximo, é mais forte que tudo o resto.
Vigia-me, protege-me, tão sómente. No alto do seu poder.
Não me amedronta.
Oferece-me um festival e proliferação de flor, inigualável!
Oferece-me um conjunto de aromas, semelhantes aos que se desfrutam em aprazíveis e bem cuidados jardins.
Valoriza a minha passagem e cumprimenta o meu pensamento.
Acessível a todos que a olham e lhe tocam, permanece no seu lugar cativo, há anos e anos.

Tantos, que já lhes perdi a conta!