quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Algarve

Fim de tarde. Izzy's. Garrão.

Numa esplanada, servida por um antipático e mal preparado colaborador, pedi e tomei uma bebida que me refrescou o palato seco de areia quente.

Enquanto sorvia, de certa forma ávidamente o tal refresco, pelo fundo do copo mostrou-se-me ali tão perto uma praia e uma maré que me trouxeram, à memória, a doce lembrança de meu pai.


Assim, breve, clara e quase fotograficamente, recordei histórias e acontecimentos vividos em cenário idêntico, se bem que em localização geográfica diferente. Baleal.

Tantas e tantas vezes maré  baixa como a de ontem.
Ondas e ondas, pequenas, rasas, carregadas de sal que se embrulhavam num lençol  dourado à  procura do registo absoluto do amor.
Estranha sedução entre o mar e a areia, que nos leva a sonhar com a vontade de ter um casamento perfeito. Não existe!

Meu pai, associava-se às nossas brincadeiras, com entusiasmo e connosco encontrava nos seus finais de dia o ritmo mais vasto e certo da sua sempre pronta generosidade.

E assim se passavam  as férias.
Grandes, de três  meses longos, de noites de luar igualmente longas, em constante delírio, permanente felicidade, sempre à espera da hora em que o avô Mias chegasse.

Minha mãe acompanhava-nos e na sua frustração de não saber nadar, dizia: " Vai, vai, vai com as meninas! ".
E ela ficava no seu ritual de sobe e desce, à beira-mar, molhando os pés e o rabo e pensando no que iria fazer para o jantar!

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Entendimento incontroverso

Passei anos com uma bíblia de bácoras, com um pote onde se colocavam moedas, muitas, para viajar, e com um entendimento permanente de que a palavra escrita pode funcionar como uma faca de dois gumes contra nós. Para o bem ou para o mal.

Este entendimento teria, eventualmente, sido absorvido em aulas de direito, massivas, onde permanecia indelével o eco do professor. Sempre a bater na mesma tecla, parecendo fazer crer que o piano, por muito afinado, não conseguia acompanhar a letra do poeta que se queria ver cantada.

Um belo dia cruza-se no meu caminho, inesperadamente, alguém que me diz que aquele lugar comum não correspondia de todo à verdade. Até porque " tudo o que se escreve, ouve-se melhor "!

Então escrevi, escrevi, até que fiz um livro.
Mal alinhado, entrincheirado numa gaveta qualquer mas que um dia vos mostrarei.
Simples, de leitura fácil, verdadeiro. Meu.
Nada mais nada menos que o hemiciclo de uma vida, preenchida com eventos de dimensões extraordinárias, onde a girândola dos afectos é uma constante. Única!

Será que terei coragem para vos mostrar?
Vamos esperar para ver.
Todos!