Paixão é
Choro
Sozinho
Gargalhada em quarto de hotel
Vida incerta
Rotação
Norte Sul Este Oeste
Esperança talvez
quinta-feira, 26 de dezembro de 2019
segunda-feira, 16 de dezembro de 2019
Caminho
Corro atrás de nada
Meus passos tropeçam na vereda
O pensamento
Com dúvidas
Encontra nostalgia
Escondida no caminho
Meus passos tropeçam na vereda
O pensamento
Com dúvidas
Encontra nostalgia
Escondida no caminho
sábado, 14 de dezembro de 2019
A costureira
Costuro palavras
Versos e motes
Faço um lençol
Curto para cama de casal
Comprido para a de solteiro
Entre um e outro
A amante insatisfeita
E o poema por fazer
Versos e motes
Faço um lençol
Curto para cama de casal
Comprido para a de solteiro
Entre um e outro
A amante insatisfeita
E o poema por fazer
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
Tejo
Se a minha janela se fecha
Não consigo ver o rio
O barco
Nem a tonalidade do teu olhar
Não consigo ver crianças
Gaivotas
Nem o silêncio a pairar
Apenas a tua mão de poeta
Ansiosa a lembrar
Há dias assim ...
Não consigo ver o rio
O barco
Nem a tonalidade do teu olhar
Não consigo ver crianças
Gaivotas
Nem o silêncio a pairar
Apenas a tua mão de poeta
Ansiosa a lembrar
Há dias assim ...
quinta-feira, 14 de novembro de 2019
Fado
Sou
Menina
Moça
Mulher
Enfuno as velas do sonho
O céu azul cobre-me os ombros
Estrelas brilham-me nas sobrancelhas
Deus estende-me a mão
Meu coração dilata
Abro e fecho os olhos
Uma
Muitas vezes
Num piscar constante
Junto ao leme
Canto meu fado
Sem vontade de chorar
Menina
Moça
Mulher
Enfuno as velas do sonho
O céu azul cobre-me os ombros
Estrelas brilham-me nas sobrancelhas
Deus estende-me a mão
Meu coração dilata
Abro e fecho os olhos
Uma
Muitas vezes
Num piscar constante
Junto ao leme
Canto meu fado
Sem vontade de chorar
segunda-feira, 28 de outubro de 2019
Halloween
Manhã
Chove na cidade
Rapaz atento e curioso
Repara num chapéu azul de aba larga
Pára com espanto
Observa com graça
Balbucia
" mas não é quinta-feira "
Galanteado e ufano
O artefacto incha
De importância
Molhado pela chuva abençoada
Afogado na mochila de papéis
Apressado para a escola
Olha mais uma vez
De soslaio
No cimo da rampa
Entre palavras furtivas
Costas viradas
Acena para o portão e diz
" ainda não é Halloween! "
Chove na cidade
Rapaz atento e curioso
Repara num chapéu azul de aba larga
Pára com espanto
Observa com graça
Balbucia
" mas não é quinta-feira "
Galanteado e ufano
O artefacto incha
De importância
Molhado pela chuva abençoada
Afogado na mochila de papéis
Apressado para a escola
Olha mais uma vez
De soslaio
No cimo da rampa
Entre palavras furtivas
Costas viradas
Acena para o portão e diz
" ainda não é Halloween! "
quarta-feira, 9 de outubro de 2019
Espera ...
Sentava-me no banco, à espera que ele chegasse...
Amava e odiava aquela espera, que me ensinava algo e não me deixava indiferente.
Reunia palavras para lhe dizer.
As mãos molhadas de suor nervoso, limpava-as nos " jeans ".
Eis que, como sempre, aparecia afogueado, o rosto também molhado de emoção.
O atraso e a cor rubra, davam-lhe uma surpreendente beleza.
Olhávamos um para o outro, de amor pueril.
Balbuciávamos algumas palavras.
Defendíamos a espera e/ou atraso, com idéias imortais.
Juntávamos os factos, as mãos, os rostos.
O nosso suor parecia água a sair da bica da fonte.
Discutíamos pontos de vista.
Oferecíamo-nos ingenuamente e tentávamos encontrar caminho, verdade, vida, futuro ...
No ano seguinte, quando as andorinhas voltavam, já não me sentava naquele banco ...
Ele também já não ia a correr, atrasado, ao meu encontro.
A rotina da vida tinha-nos afastado.
Quando nos cruzávamos na aldeia, adultos, falávamos daqueles episódios com saudade.
Por fim, ríamo-nos muito.
Hoje, somos amigos.
Nunca mais voltou a ânsia de nos querermos, como dantes.
Crescemos ...
Aprendemos ...
Quando me sento naquele banco, sózinha, recuo no tempo de forma lúdica, com alguma irreverência.
Despretensiosamente, recordo o passado.
Entro pela porta grande no futuro .
Amava e odiava aquela espera, que me ensinava algo e não me deixava indiferente.
Reunia palavras para lhe dizer.
As mãos molhadas de suor nervoso, limpava-as nos " jeans ".
Eis que, como sempre, aparecia afogueado, o rosto também molhado de emoção.
O atraso e a cor rubra, davam-lhe uma surpreendente beleza.
Olhávamos um para o outro, de amor pueril.
Balbuciávamos algumas palavras.
Defendíamos a espera e/ou atraso, com idéias imortais.
Juntávamos os factos, as mãos, os rostos.
O nosso suor parecia água a sair da bica da fonte.
Discutíamos pontos de vista.
Oferecíamo-nos ingenuamente e tentávamos encontrar caminho, verdade, vida, futuro ...
No ano seguinte, quando as andorinhas voltavam, já não me sentava naquele banco ...
Ele também já não ia a correr, atrasado, ao meu encontro.
A rotina da vida tinha-nos afastado.
Quando nos cruzávamos na aldeia, adultos, falávamos daqueles episódios com saudade.
Por fim, ríamo-nos muito.
Hoje, somos amigos.
Nunca mais voltou a ânsia de nos querermos, como dantes.
Crescemos ...
Aprendemos ...
Quando me sento naquele banco, sózinha, recuo no tempo de forma lúdica, com alguma irreverência.
Despretensiosamente, recordo o passado.
Entro pela porta grande no futuro .
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
Lisboa
Do alto
Sinto o teu olhar
Não passa de fruição
Um momento de loucura
Deste-me promessas de nada
Um mundo de faz de conta
Encosto-me ao parapeito
Cansada de falsas magias
Fados desafinados
Guitarras enrouquecidas
Caravelas ancoradas
Em dia de tempestade
Gaivotas em terra
Sinto o teu olhar
Não passa de fruição
Um momento de loucura
Deste-me promessas de nada
Um mundo de faz de conta
Encosto-me ao parapeito
Cansada de falsas magias
Fados desafinados
Guitarras enrouquecidas
Caravelas ancoradas
Em dia de tempestade
Gaivotas em terra
quinta-feira, 29 de agosto de 2019
Sou ...
Sou ...
Mulher
Labirinto
Aventura
Promessa
Brinquedo de criança
Sou ...
Espelho
Infinito
Projecção
Lágrima
Galáxia por criar
Sou ...
Prece
Ilusão
Droga
Sarcasmo
Futuro em contra-ponto
Sou ...
Glória
Liberdade
Tabu
Imagem
De costas para o passado
Sou ...
Força
Rebeldia
Crença
Natureza
Morte
Sou ...
Instante mágico
Perplexo
No cosmos
Mulher
Labirinto
Aventura
Promessa
Brinquedo de criança
Sou ...
Espelho
Infinito
Projecção
Lágrima
Galáxia por criar
Sou ...
Prece
Ilusão
Droga
Sarcasmo
Futuro em contra-ponto
Sou ...
Glória
Liberdade
Tabu
Imagem
De costas para o passado
Sou ...
Força
Rebeldia
Crença
Natureza
Morte
Sou ...
Instante mágico
Perplexo
No cosmos
sábado, 17 de agosto de 2019
Há festa na aldeia
Há festa na aldeia
De manhã ouvem-se os sinos
Foguetes e morteiros
Acordam os noctívagos
Há música na porta do meu jardim
O saco do peditório escancara-se
O porta-estandarte reclama a foto
O presidente esboça um sorrisinho
A bandinha toca
Agradecida
S. Roque despede-se religiosamente
Fustigado pelo vento regressa à capela
Para guardar o seu lugar
Na missa das quatro
De manhã ouvem-se os sinos
Foguetes e morteiros
Acordam os noctívagos
Há música na porta do meu jardim
O saco do peditório escancara-se
O porta-estandarte reclama a foto
O presidente esboça um sorrisinho
A bandinha toca
Agradecida
S. Roque despede-se religiosamente
Fustigado pelo vento regressa à capela
Para guardar o seu lugar
Na missa das quatro
quarta-feira, 7 de agosto de 2019
O canto do meu jardim
No canto do meu jardim
Guardam-se alfaias
Erguem-se plantas regeneradas
Presas a barrotes de madeira
Como irmãos enleados
Aqui e além
Canta o melro
Saltitante
Solene
Foge de nós
Para lá da sebe
O cheiro a mosto das peras
Mistura-se na terra madura
No canto do meu jardim
Há vento
Árvores seculares
Vizinhança ignorada
Azeitonas no chão
Esplendor na relva
No canto do meu jardim
Há um alpendre
Franco e aberto
Onde (re) invento os meus dias
E o silêncio
Se confunde com o lamento da coruja
Em fuga
Para o campanário da igreja
Guardam-se alfaias
Erguem-se plantas regeneradas
Presas a barrotes de madeira
Como irmãos enleados
Aqui e além
Canta o melro
Saltitante
Solene
Foge de nós
Para lá da sebe
O cheiro a mosto das peras
Mistura-se na terra madura
No canto do meu jardim
Há vento
Árvores seculares
Vizinhança ignorada
Azeitonas no chão
Esplendor na relva
No canto do meu jardim
Há um alpendre
Franco e aberto
Onde (re) invento os meus dias
E o silêncio
Se confunde com o lamento da coruja
Em fuga
Para o campanário da igreja
segunda-feira, 29 de julho de 2019
Domingo ...
Tachos
Panelas
Disputas
Gargalhadas
Dança (des)arrumação
Entardece
A história do dia
Quase chega ao fim
Retrato breve
Pequeno grupo de actores
Ombros
Uns nos outros
Lenta cai a noite
Lusco-fusco
Novo dia
Panelas
Disputas
Gargalhadas
Dança (des)arrumação
Entardece
A história do dia
Quase chega ao fim
Retrato breve
Pequeno grupo de actores
Ombros
Uns nos outros
Lenta cai a noite
Lusco-fusco
Novo dia
sexta-feira, 12 de julho de 2019
Despertar
A música do rádio
O canto dos pássaros
Confundem-me o despertar
Um melro
Em vai-vém incessante
Diz-me que a manhã vai alta
O sonho
Embrulhado no lençol
Prende-me os braços
Procuro o sol o homem o dia
A (in) certeza
Em movimento circular
Uma dengosa mosca
Lambe- me a cara
Rodopia
Beija-me o cabelo
Volta
Sussura-me ao ouvido
Quero ser poeta
O canto dos pássaros
Confundem-me o despertar
Um melro
Em vai-vém incessante
Diz-me que a manhã vai alta
O sonho
Embrulhado no lençol
Prende-me os braços
Procuro o sol o homem o dia
A (in) certeza
Em movimento circular
Uma dengosa mosca
Lambe- me a cara
Rodopia
Beija-me o cabelo
Volta
Sussura-me ao ouvido
Quero ser poeta
segunda-feira, 8 de julho de 2019
Simple Thoughts
Contemplo o dia pela janela
Cinzento
Fosco
O azul do céu
Confunde-se com o silêncio
Tu e eu
A divagar ...
Cinzento
Fosco
O azul do céu
Confunde-se com o silêncio
Tu e eu
A divagar ...
quinta-feira, 4 de julho de 2019
Contraste
Nem sempre sou o que pareço
Nem sempre sou o que quero
No fundo
Sou
O contraste
Que me corre nas veias
E me queima a pele
E me faz gritar
Sou ...
Assim
Nem sempre sou o que quero
No fundo
Sou
O contraste
Que me corre nas veias
E me queima a pele
E me faz gritar
Sou ...
Assim
quinta-feira, 6 de junho de 2019
Sou ...
Sou
Semente e seara
Alegria e êxtase
Amiga e amante
Sou
Sangue rubro
Papoila em baldio sem préstimo
Sou
Guerreira
No campo de batalha do poema
Sou Mulher Corpo Alma Amor
Sou
Sexo sonhado
A beijar teus lábios
Em voo elíptico
Sou
Arco-íris
Em dia de chuva
A cruzar a geratriz de nossas vidas
Semente e seara
Alegria e êxtase
Amiga e amante
Sou
Sangue rubro
Papoila em baldio sem préstimo
Sou
Guerreira
No campo de batalha do poema
Sou Mulher Corpo Alma Amor
Sou
Sexo sonhado
A beijar teus lábios
Em voo elíptico
Sou
Arco-íris
Em dia de chuva
A cruzar a geratriz de nossas vidas
sábado, 1 de junho de 2019
... mar
Mar profundo
Intenso
Infinito
Revolto
Mar que nos traz
Amor esperança morte renascimento
Mar com voz
Que se deixa ouvir
Para lá da erosão do tempo
E do espaço
( comentário feito a Manuel de Diego Flores
na sua pag, de fb, em 01.05.019 )
Intenso
Infinito
Revolto
Mar que nos traz
Amor esperança morte renascimento
Mar com voz
Que se deixa ouvir
Para lá da erosão do tempo
E do espaço
( comentário feito a Manuel de Diego Flores
na sua pag, de fb, em 01.05.019 )
quarta-feira, 8 de maio de 2019
Hoje ...
Desaba o tecto do mundo
Rasga-me o peito
Silêncio
Dor e sombra
Hibernam dentro de mim
A chuva
Densa
Persiste
Atordoa
Desaba em cada esquina
Da janela
Avisto o céu
Teu olhar adormecido
Uma criança a brincar
Uma mãe a ralhar
Confundo o negrume do dia
Com a Primavera envergonhada
Construo um arco-íris
Vou ser criança outra vez
Saltar à corda
Rir
Tropeçar
Cair
Hoje ...
Já não saio
Rasga-me o peito
Silêncio
Dor e sombra
Hibernam dentro de mim
A chuva
Densa
Persiste
Atordoa
Desaba em cada esquina
Da janela
Avisto o céu
Teu olhar adormecido
Uma criança a brincar
Uma mãe a ralhar
Confundo o negrume do dia
Com a Primavera envergonhada
Construo um arco-íris
Vou ser criança outra vez
Saltar à corda
Rir
Tropeçar
Cair
Hoje ...
Já não saio
quinta-feira, 25 de abril de 2019
Marina de Oeiras
No cais
Os arautos proclamam festa
Ouço o cantar das amarras
Dançam barcos no vento
Beijam-se os amantes
Na salsugem das marés
Meu olhar perde-se
Nostálgico
Miragem do que nunca serei
Hoje
Não há gaivotas
quinta-feira, 18 de abril de 2019
Mãe
Minha mãe
Já não me saciam
Os momentos que vou a casa
Nem relembro
Memórias do que foste
Numa catedral de amor
Agora submersa em silêncio
Resta-me esperar
Que um dia de Primavera
Leve meus lábios a beijar teu rosto
E minhas mãos a acariciar teus olhos
Nesse amendoado
Gasto pelo esforço dos anos
Afundam-se preguiçosamente
Todas as palavras que nunca te disse
segunda-feira, 8 de abril de 2019
Adormeço
Chove lá fora
O vento assobia
O frio corta os lábios
No cieiro disfarçado
Cá dentro
A lareira acesa
As paredes com rachas
Enchem-se de calor
Em cima da mesa
Indiferente
Miguel Torga vê a criação do mundo
Com a patine dos anos
Fecho o portátil
Embrulho-me nas labaredas
Em dança de ventre
Sensual
Apetecida
Os olhos ensonados
Meio abertos meio fechados
Anseiam a visita do gato
Em passadas largas no telhado
Junto ao fumeiro
Adormeço
O vento assobia
O frio corta os lábios
No cieiro disfarçado
Cá dentro
A lareira acesa
As paredes com rachas
Enchem-se de calor
Em cima da mesa
Indiferente
Miguel Torga vê a criação do mundo
Com a patine dos anos
Fecho o portátil
Embrulho-me nas labaredas
Em dança de ventre
Sensual
Apetecida
Os olhos ensonados
Meio abertos meio fechados
Anseiam a visita do gato
Em passadas largas no telhado
Junto ao fumeiro
Adormeço
terça-feira, 26 de março de 2019
O Bolinhas ...
Tinha um carro novinho em folha, que me fora oferecido pelos meus pais, num dia de aniversário.
Branco, de sua matrícula DL-70-77, de sua marca Honda, de seu tamanho pequeno.
Grande apenas nos segredos, risos e conversas que guardava. Para si.
Fazia as delícias das minhas amigas e as minhas próprias.
Éramos íntimos, confidentes. Éramos unha com carne!
Com gasolina que hoje dizemos à boca cheia muito barata (2$50/litro), enchia o depósito que dava para a semana e muita folia no seu fim ...
Passeávamos muito, engolíamos quilómetros, digeríamos locais.
Andávamos por terras nunca dantes desbravadas.
Amantes da viagem, corríamos " Seca e Meca ".
Sempre com o Bolinhas cheio.
Eu e as minhas amigas soletrávamos, deliciadas, o nome de cada aldeia, de cada cidade, de cada canto.
Parávamos a meio caminho, quando o calor era intenso, para beber algumas gotas de água doce e potável, que caíam de uma fonte qualquer, que a idade tornara amarga.
Os corpos jovens, a vontade grande e um carro nas mãos, dava-nos o privilégio de fazer amizades no ímpeto do momento.
Conheci gentes que me saciaram a curiosidade com histórias de primaveras passadas, sonhos de futuro inatíngivel, de adultério inimaginável, de naufrágios à vista de terra, de lobisomens à passagem da meia-noite ...
Histórias de tudo e de nada, onde (por vezes) o atraso atávico, proporcionava a entrega de bandeja de um segredo que lhes estava corroendo a alma.
Foi assim durante anos.
Ai se o meu carro falasse, tinha muito que contar!
Porém, foi-se um belo dia o meu Bolinhas para Guimarães.
Em troca por um carro melhor, mais potente, mais confortável.
Chegou pronta e rapidamente o carro novo.
Imponente à saida do stand, brilhante, lindo por sinal.
Mas não tinha a alma do anterior.
Nem paciência para me ouvir.
Nem cofre para guardar as minhas confidências.
Só a gasolina continuava na mesma, barata.
Eu e as minhas amigas continuávamos também a passear, mas nada era igual.
Nem a cor, nem a matrícula, nem o tamanho.
Era maior, confortável e mais potente.
De sua cor vermelha, dava nas vistas, mas era assexuado.
Não nos ligava patavina, apenas nos transportava.
Na incerteza de o querer, no medo de o perder, habituei-me a não lhe contar as minhas aventuras.
Estacionava-o à distância de qualquer tipo de olhar, curioso ou histérico.
Paria sózinha a minha exuberância e as minhas alegrias espraiavam-se cada vez mais longe.
O meu carro já não era, mais, o meu confidente e amigo.
Era tão sómente o meu espaço e comodidade no transporte.
As minhas amigas foram deixando comigo apenas os contornos de seus corpos e risos.
E eu, fiquei com todos os anjos e demónios, que se eternizam no arrebatamento da vida!
Branco, de sua matrícula DL-70-77, de sua marca Honda, de seu tamanho pequeno.
Grande apenas nos segredos, risos e conversas que guardava. Para si.
Fazia as delícias das minhas amigas e as minhas próprias.
Éramos íntimos, confidentes. Éramos unha com carne!
Com gasolina que hoje dizemos à boca cheia muito barata (2$50/litro), enchia o depósito que dava para a semana e muita folia no seu fim ...
Passeávamos muito, engolíamos quilómetros, digeríamos locais.
Andávamos por terras nunca dantes desbravadas.
Amantes da viagem, corríamos " Seca e Meca ".
Sempre com o Bolinhas cheio.
Eu e as minhas amigas soletrávamos, deliciadas, o nome de cada aldeia, de cada cidade, de cada canto.
Parávamos a meio caminho, quando o calor era intenso, para beber algumas gotas de água doce e potável, que caíam de uma fonte qualquer, que a idade tornara amarga.
Os corpos jovens, a vontade grande e um carro nas mãos, dava-nos o privilégio de fazer amizades no ímpeto do momento.
Conheci gentes que me saciaram a curiosidade com histórias de primaveras passadas, sonhos de futuro inatíngivel, de adultério inimaginável, de naufrágios à vista de terra, de lobisomens à passagem da meia-noite ...
Histórias de tudo e de nada, onde (por vezes) o atraso atávico, proporcionava a entrega de bandeja de um segredo que lhes estava corroendo a alma.
Foi assim durante anos.
Ai se o meu carro falasse, tinha muito que contar!
Porém, foi-se um belo dia o meu Bolinhas para Guimarães.
Em troca por um carro melhor, mais potente, mais confortável.
Chegou pronta e rapidamente o carro novo.
Imponente à saida do stand, brilhante, lindo por sinal.
Mas não tinha a alma do anterior.
Nem paciência para me ouvir.
Nem cofre para guardar as minhas confidências.
Só a gasolina continuava na mesma, barata.
Eu e as minhas amigas continuávamos também a passear, mas nada era igual.
Nem a cor, nem a matrícula, nem o tamanho.
Era maior, confortável e mais potente.
De sua cor vermelha, dava nas vistas, mas era assexuado.
Não nos ligava patavina, apenas nos transportava.
Na incerteza de o querer, no medo de o perder, habituei-me a não lhe contar as minhas aventuras.
Estacionava-o à distância de qualquer tipo de olhar, curioso ou histérico.
Paria sózinha a minha exuberância e as minhas alegrias espraiavam-se cada vez mais longe.
O meu carro já não era, mais, o meu confidente e amigo.
Era tão sómente o meu espaço e comodidade no transporte.
As minhas amigas foram deixando comigo apenas os contornos de seus corpos e risos.
E eu, fiquei com todos os anjos e demónios, que se eternizam no arrebatamento da vida!
terça-feira, 12 de março de 2019
Tristeza
Triste é
Não ter família
Nem realização
Não ter amigos
Nem poder sonhar
Não ter paixão
Nem arrebatamento
Não ser criança
Nem saber brincar
Não ter um livro
Nem saber escrever
Não ter amante
Nem ser adúltero
Não ter orgasmo
Nem sentir a posse
Não ter prazer
Nem rasgar o céu
Não ter pecado
Nem confissão
Não ter paleta
Nem ousar pintar
Não ter liberdade
Nem querer voar
Não ser papoila
Nem querer gritar
Triste é
Não ser feliz
Nem sequer tentar
Não ter família
Nem realização
Não ter amigos
Nem poder sonhar
Não ter paixão
Nem arrebatamento
Não ser criança
Nem saber brincar
Não ter um livro
Nem saber escrever
Não ter amante
Nem ser adúltero
Não ter orgasmo
Nem sentir a posse
Não ter prazer
Nem rasgar o céu
Não ter pecado
Nem confissão
Não ter paleta
Nem ousar pintar
Não ter liberdade
Nem querer voar
Não ser papoila
Nem querer gritar
Triste é
Não ser feliz
Nem sequer tentar
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019
Sou ...
Voo alto
No torpor do silêncio
Bato asas
Estremeço na luz
Sou mariposa azul
Filigrana
Bruxa
Barbie
Monarca
À procura de trono para reinar
No torpor do silêncio
Bato asas
Estremeço na luz
Sou mariposa azul
Filigrana
Bruxa
Barbie
Monarca
À procura de trono para reinar
quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
Despertar
Morro todos os dias
Um pouco
Na noite escura
Embrulhada no sono
Que sai da mesa de cabeceira
Procuro-te
Em vão
No amplexo do teu corpo
Na euforia do sonho
Na sensualidade do calor
Na sombra da tua ausência
No despertar da manhã
Um pouco
Na noite escura
Embrulhada no sono
Que sai da mesa de cabeceira
Procuro-te
Em vão
No amplexo do teu corpo
Na euforia do sonho
Na sensualidade do calor
Na sombra da tua ausência
No despertar da manhã
sábado, 5 de janeiro de 2019
Tanto frio
Meus olhos
Cegos de lágrimas
Não me deixam ver o Tejo
" Mais belo que o rio da minha aldeia "
A espreguiçar
Vapores de nevoeiro
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