quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Espera ...

Sentava-me no banco, à espera que ele chegasse...
Amava e odiava aquela espera, que me ensinava algo e não  me deixava indiferente.

Reunia palavras para lhe dizer.
As mãos molhadas de suor nervoso, limpava-as nos "  jeans ".

Eis que, como sempre, aparecia afogueado, o rosto também molhado de emoção.
O atraso e a cor rubra, davam-lhe uma surpreendente beleza.

Olhávamos um para o outro, de amor pueril.
Balbuciávamos algumas palavras.
Defendíamos a espera e/ou atraso, com idéias imortais.

Juntávamos os factos, as mãos, os rostos.
O nosso suor parecia água a sair da bica da fonte.

Discutíamos pontos de vista.
Oferecíamo-nos ingenuamente e tentávamos encontrar caminho, verdade, vida, futuro ...

No ano seguinte, quando as andorinhas voltavam, já  não me sentava naquele banco ...
Ele também já não ia a correr, atrasado, ao meu encontro.

A rotina da vida tinha-nos afastado.
Quando nos cruzávamos na aldeia, adultos, falávamos daqueles episódios com saudade.
Por fim, ríamo-nos muito.

Hoje, somos amigos.
Nunca mais voltou a ânsia de nos querermos, como dantes.
Crescemos ...
Aprendemos ...

Quando me sento naquele banco, sózinha, recuo no tempo de forma lúdica,  com alguma irreverência.
Despretensiosamente, recordo o passado.

Entro pela porta grande no futuro .


4 comentários:

  1. Ao longo da vida há muitos bancos onde nos sentámos. E também esperas. E também encontros e desencontros. Crescemos e amadurecemos de banco em banco. E envelhecemos num banco.

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  2. Quantos bancos mais, estão à espera. .......?

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