Onze horas.
Mais um dia de avaliação médica no HCV.
Chegada lá, à hora marcada, verifiquei com algum espanto que o atropelo de pessoas e coisas era um constante desencontro.
Para descontentamento de muitos. Quase todos.
Ouviam-se as vozes simpáticas e prestimosas das administrativas, reclamando presenças.
Para a esquerda. Para a direita.
Exames, consultas, pagamentos, informações.
Os médicos, num reboliço frenético, faziam as receitas saltar-lhes das mãos em piruetas desfeitas.
Os ossos de meu corpo, cansados, ajeitaram-se num sofá mal concebido.
De quando em vez, sussurravam por tréguas.
Inquieta, olhava o relógio.
Via as pessoas passarem. Estonteada, enchia-me de tédio.
Os cheiros misturados e adulterados pela transpiração, causavam-me náuseas.
As conversas balofas, traziam-me o desejo do café que corria no último piso.
Exasperada e sem conforto, voltava a afundar-me no sofá.
Uma e outra vez.
Tentava encontrar a forma mais confortável de encaixar as nádegas dormentes.
Enterrava-me no nada e esperava que o amanhã chegasse.
Distante!
Quando os ossos do ofício, mesmo estando reforçados com próteses de plástico, são pneumonia, parece-me que a cafeteria do HCV, mesmo ficando no piso panorâmico, não é assim tão longe, nem tão incómodo como os sofás mal concebidos das salas de espera.
ResponderEliminarTens razão. Não é muito longe.
EliminarTanto assim que galgo os muitos degraus, até ao último piso, na esperança de que o panorama e o café me pacifiquem a incómoda espera e me façam esquecer os desajeitados sofás!
As doenças dão-nos cabo do corpo, mas aguçam-nos a mente e apuram-nos a escrita (para quem gosta de escrever).
ResponderEliminarNum texto "leve" toda a crueza de uma espera por uma consulta hospitalar.
Desejo que a recuperação esteja a decorrer com a normalidade necessária.
Passado um ano verifiquei que não te respondi.
EliminarPois olha, Maria Teresa, valeu a pena aquela espera aborrecida. Se não fosse ela, não teria feito todo o percurso até à cirurgia.
Agora, parece que as coisas estão encaminhadas graças a Deus.
Vou continuar a aguardar, nesta fase, sem aborrecimento e com muita calma.
Beijinhos.