Década de 90. Anos de mudança, decisivos na minha vida.
Muita coisa tinha acontecido.
Muita coisa iria passar-se, deixando esvoaçar retalhos do passado.
Adaptação, escolha, continuação de uma vida ainda por viver.
Procura de um novo rumo, procura de um novo sítio. Procura de alguém para partilhar afectos.
Recordava os olhos de meu pai, chorosos e embaciados, ao ver-me partir.
Recordava o silêncio de minha mãe, num recado mal construído e que ficou por dar...
Profundamente comovido e com poucas palavras, meu pai dizia:
" Escolhe com critério o teu caminho e com cuidado as
amizades
A cidade de onde vieste e para onde vais, é dantesca no
mal.
O bem, nem sempre se encontra ao virar de uma
esquina ".
Mas eu vim. Sem medo.
Tentando condicionar o meu quotidiano àquilo que eu mais queria e sabia fazer. Arte!
E com ideia profunda neste ofício, fi-lo. Imediatamente!
Av. da República, Rua do Salitre, Praça d'Alegria, Av. do Colégio Militar, Areeiro e por aí fora...
Que lugares eram esses?
Eram pedaços de chão onde, a amabilidade e o diálogo tranquilo emergiam naturalmente.
Nas paredes que sustentavam o habitáculo, descobriam-se quadros. Esculturas, instalações. O que fosse!
Desnudavam-se a profundeza e intimidade de pintores, músicos ou poetas!
Em dias de " vernissage " ali se debatiam e cruzavam as grandes forças e dúvidas do Universo.
E eu, por vezes alheia a tudo e a todos, tentava não transparecer as minhas angústias interiores.
Sempre sorridente.
Momentos havia, em que encostava o rosto às paredes, dialogava com os quadros, vestia a sua roupagem, remexia memórias e fazia do meu trabalho uma música celestial.
Com esforço, palavras, formas, cores, sentidos, luz e sombras, construí a vida que tenho hoje.
Construí um palácio para viver.
Não o " Palácio da Lua " de Paul Auster.
O meu palácio!!!
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Tuas galerias foram espaço de arribação de vários pássaros migrantes, alguns quiseram amar-te, sem sucesso, porque um outro inusitado pássaro entrou, pintou-te, esculpiu-te e instalou-te no seu coração.
ResponderEliminarAlguns pássaros andavam e esvoaçavam por ali mas nem todos tiveram condições de pousar. Por este ou aquele motivo, nem eu sei!
EliminarSó sei que um entrou no meu caminho, desbravou o meu coração e conseguiu fazer-me voar!💖
Com arte(s) e sabedoria se constroem palácios, leves de cartas e palavras e momentos, mas que de firmes e fundeados não desmoronam...
ResponderEliminarÉ essa a fibra das nossas mulheres.
EliminarCom arte e engenho e uma âncora pelo meio,sabem construir um mundo inquebrável. Mesmo que a noite teime em mostrar-
-lhes que a decisão não foi a melhor!💚