O meu coração bateu tão forte, quase me saltava pela boca.
Caí nos degraus de mármore, desamparadamente, no meu prédio.
No branco da pedra limpa, ficava a vontade de me levantar, com medo do escuro que se fazia ver.
Com medo do que pudesse advir daquele infausto momento.
Arrastei-me de rabo e consegui entrar em casa, silenciosamente.
Chorosa, clamei por ajuda, que não se fez tardar.
Cabeça atordoada, não sabia muito bem o que balbuciar.
Olhava para os joelhos com dois hematomas e tudo na minha frente, por entre lágrimas salgadas, passava vertiginosamente:
Médico, luz, sombra.
Sonho, escrita.
Som, televisão.
Vida, morte.
Amor, mistério.
Em flashes, muito rápidos, que davam vida e cor à pouca vontade de reagir.
Partilhava as emoções com quem me estava, ali, a ouvir.
Incentivava-me à contenção, mas aquelas palavras pareciam-me lúgubres, de um poema mal acabado.
Saíam em catadupas de uma boca amiga, mas nada me transmitiam naquele momento.
Apenas a incerteza do que se estava a passar, e a sensação de dor e medo, me perpassavam aguçadamente.
Reflectia na minha história, uma história que atravessa histórias, com belos momentos de prazer e liberdade.
Outros, de uma reflexão e interrogação intrínsecas.
E eis que a vida mais uma vez me surpreendia!
Neste momento de inquietação, resta-me apenas confirmar o diagnóstico e manter-me tranquila.
Amanhã é outro dia.
Luminoso ou não, de preferência nítido, onde possa ver os
efeitos da luz, o branco e o preto em fundo transparente, como se tudo tivesse sido gerado no nada, ou na noite!
Pelos vistos, no Mundo de Eran, também há trambolhões que assustam mais do que doem, porque a dor alheia que cada um sente é sempre menor do que realmente é. De qualquer modo, sem dor, não há criação digna de nota, e o teu texto é luminoso, mesmo sendo noite e não ainda o novo dia de amanhã.
ResponderEliminarA dor é uma sensação muito subjectiva.
EliminarCada um, sente e reage à sua maneira.
Não há como avaliar a dor do outro, nem mesmo quando se passa por situações semelhantes!
Obrigada pelas palavras quanto ao texto.
Estou aqui a pensar que o problema pode estar nos olhos e não nos pés...
ResponderEliminarTens razão.
EliminarNão posso retardar mais a cirurgia!
O olho esquerdo está a fazer-me muita falta.
Haja paciência para tanto médico!!!
Mais um pequeno mas brilhante texto, imerso na perfeição da simplicidade, vestido com palavras que sabem contar os sentimentos da alma...
ResponderEliminarAssim é a Literatura!
Como deves calcular escrevo ao correr da pena, sem artifícios ou palavras rebuscadas, apenas com a verdade e a emoção do momento.
EliminarQuando assim é, creio que a crónica é bem sucedida!