A nostalgia de um local que, apesar de precário, era uma catedral de conhecimento e vida.
Ali se guardam histórias, sabores e saberes, caras e corpos; olhares ingénuos e perscrutantes, palavras e pensamentos por soletrar.
Ali se guardam confissões de amor e a má língua das senhoras vizinhas; bebedeiras leves e profundas das gentes da terra, e o nó na garganta dos que, por decência, temiam falar.
Ali se guardam zangas de namorados, encontros e desencontros de amantes; fingimento dos que já não se amam e a comodidade dos que querem ficar juntos.
Ali se guarda a história de uma aldeia desertificada, a seu tempo conhecida por Vaticano, onde as raparigas, em grupos, se juntavam no largo, e os rapazes apareciam em catadupa à procura de companhia.
Ali se guarda a memória das noites de Verão na eira, dos bailes na casa da Albertina, das alcachofras a crepitar na fogueira de Santo António, e do mata junto ao coreto.
Ali se guardam a vida e a morte, a verdade e a mentira, o pranto e a alegria, o orgulho e o preconceito, a desfaçatez e o recato.
Ali se guarda a história de A-dos-Ruivos, contada e recontada mil e uma vezes; ali, no Café da Rosárita, a que alguns chamavam por escárnio e mal dizer - o Correio da Manhã!
Rosárita, uma personagem ímpar, imponente no tamanho e porte, sabia tudo da terra e muito mais; todos lhe contavam os acontecimentos do dia, encostados a um café mal tirado.
Rosárita, papel principal num dia a dia de natureza, nem sempre dourada.
Há muito que a não vejo. Para ela o meu cântico de Natal, o meu louvor, o meu bem-haja pela cor que imprimia àquela aldeia, num tom quase monocórdico mas cheio de intenção pacificadora.
Bom Natal a todos os Ruivenses.
Na falta de um pároco residente em A-dos-Ruivos, fico ciente de que o Café da Rosárita era uma espécie de confessionário dos bons e maus paroquianos, bem como arquivo histórico dos ruivenses onde, ao fim do dia, se reuniam também os apreciadores de vinho, para assinarem o relatório dos acontecimentos.
ResponderEliminarNa mouche Armandinho!!!
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