quinta-feira, 25 de abril de 2019

Marina de Oeiras


No cais
Os arautos proclamam festa

Ouço o cantar das amarras
Dançam barcos no vento
Beijam-se os amantes
Na salsugem das marés

Meu olhar perde-se
Nostálgico
Miragem do que nunca serei

Hoje
Não há gaivotas


quinta-feira, 18 de abril de 2019

Mãe


Minha mãe
Já não me saciam
Os momentos que vou a casa
Nem relembro
Memórias  do que foste
Numa catedral de amor
Agora submersa em silêncio

Resta-me esperar
Que um dia de Primavera
Leve meus lábios a beijar teu rosto
E minhas mãos a acariciar teus olhos

Nesse amendoado
Gasto pelo esforço dos anos
Afundam-se preguiçosamente
Todas as palavras que nunca te disse

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Adormeço

Chove lá fora
O vento assobia
O frio corta os lábios
No cieiro disfarçado

Cá dentro
A lareira acesa
As paredes com rachas
Enchem-se de calor

Em cima da mesa
Indiferente
Miguel Torga vê a criação do mundo
Com a patine dos anos

Fecho o portátil
Embrulho-me nas labaredas
Em dança de ventre
Sensual
Apetecida

Os olhos ensonados
Meio abertos meio fechados
Anseiam a visita do gato
Em passadas largas no telhado
Junto ao fumeiro

Adormeço