Deito-me
Entregue aos humildes braços da sesta
À espera de tudo ser sonho
Entre a monotonia e a exaltação
O calor é muito
Derrete-me as ideias pobres e esquecidas
Enfrenta a semi- obscuridade sem a achar daninha
As gotas salgadas de suor
Escorrem-me pelo rosto até aos lábios
Dedilho-as ponto por ponto
Sinto-as como aperitivo que não ouso tomar
Os olhos ardem-me de tanta hidratação
A pálpebra superior mexe-se na ânsia de os apaziguar
A de baixo permanece inerte na inveja daquele ondular
constante
Tento adormecer
Com ganas de preguiça
Em cima do leito escaldante
Até mais logo
Mas o sono não vem
Como cedro vigilante à beira dos seus defuntos
Ergo-me
Mulher feita de dor e paixão
Mulher feita de pecados
Por hoje
Só a avareza não cabe no meu universo
Às vezes também construo os meus textos durante o tempo acordado da sesta. Mas não me levanto da cama. É que não tenho pecados que vençam a minha indolência. Procuro fixá-los na memória e, depois da sesta, reescrevo-os.
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