sexta-feira, 30 de junho de 2017

Sinais

Não é bom sinal, quando se ouvem sinais na minha aldeia.
Morreu alguém!
Corre-se ao Café da Rosárita ou à vizinha mais chegada.
Para saber quem se finou.
Mas a aldeia está deserta.
Ninguém num horizonte próximo.
Apenas se ouve o vento, como se não houvesse fim.
Apenas se vê a sombra dos que partiram e dos que não existem.
Os matizes bucólicos projectam-se em três dimensões no campo aberto, até ao Montejunto.
Toca o sino na minha aldeia.
Uma realidade semi-imaginada, carregada de dramatismo metálico.
Então, vela-se o corpo, reza-se a missa, enterra-se o personagem.


terça-feira, 13 de junho de 2017

Santo António

À noite
Morcegos circundam meus cabelos
Em círculos alados e constantes

Ao longe
O som rouco de foguetes
Mistura-se com latidos de cães
Que ainda não adormeceram

No jardim
Luzes incendeiam a moleza
Do sono que está a chegar

Lá dentro
As marchas populares
Mascaram a iliteracia dum povo
Que alegremente finge que gosta

terça-feira, 6 de junho de 2017

Susto!

O corpo segue em " Z "
Num tempo que termina
Onde as horas são segundos

Sem demora
Os passos largos e descoordenados
Definem a aflição do momento

Tronco curvado
Atirado contra as paredes
Com sufocações lancinantes
De urso moribundo

Tez vermelha roxa pardacenta
Busca incessantemente a porta de saída
À espera da ajuda
Que não sobe nem desce de elevador