Estremunhada
Olho de esguelha para o despertador
Tomo banho
Lavo os pecados pendentes
O dia começa sem mácula
Cozinho pedaços de sonho
Num misto de mau e bom humor
Coloco-os na terrina
À espera do julgamento digestivo
Varro com as mãos enregeladas
Raspas de vida caídas no chão
Sujas e dispersas
Ofereço-as ao lixo com desprezo
Lavo e estendo roupa
No ondular do vento perde-se o cheiro a rosas
Que derramo no corpo
Para entreter a doença
Volto a comer
A cozinhar
A dormir
A ler
A escrever
Finjo que o principal obstáculo do dia
... o tempo ...
Passa depressa
À noite
O sono aumenta
Não vejo televisão
Não cozinho
Não estendo roupa
Não tomo banho
Embrulhada em telefonemas
Adormeço e sonho
As lidas da casa, do corpo, e da memória, quando bem feitas, intensas, e exaustivas, deixam-nos disponíveis para o sonho.
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