Aqui moravam a Beatriz e o filho, de sua graça Victor, de sua alcunha " Cagão ".
Filho de pai incógnito, deu-lhe Deus à nascença um pequeno atraso mental.
Não lhe dificultava grandemente a vida mas nunca trabalhou. Nada dotado.
Cumpria, apenas, escrupulosamente os recados que lhe incumbiam.
Bem ou mal, lá andava aldeia acima, aldeia abaixo.
Sempre bem disposto.
Envolvia as pessoas com o seu olhar perscutante e a sua voz ressonante, que ecoava com um timbre especial. Só ele!
Cumprimentava aqueles de quem gostava com um slogan recorrente - " adeus amor " !!!
Riam-se dele.
Troçavam muito. Intensa e fortemente mas ele, pouco se importava.
Ria-se também e acenava a todos.
Com a sua mão direita fazia movimentos em forma de leque, como se de um rei se tratasse!
Que mais podia sentir aquele coração?
Unicamente a graça do que fazia e a magia da retribuição!
Gente muito humilde, de limpeza imaculada e de uma generosidade característica dos pobres.
Dos seus parcos haveres, faziam questão de dividir e dar aos amigos, o melhor, reservando para si apenas as migalhas.
A Beatriz, já partiu há uns anos.
Morreu no hospital da vila, sem luxos nem mordomias, mas sem lhe faltar nada. Foi tratada, até ao fim, como qualquer um.
O " Cagão " foi para um lar, onde entregava o seu mísero pecúlio, que lhe fora atribuído pela Casa do Povo de então.
No lar, continuava a fazer recados, a andar arranjado e limpo, e a acenar às pessoas.
" Adeus amor " é uma frase singela mas carregada de emoção e intenção.
Fica-me gravada na memória, para sempre, aquela figura pitoresca. Aquela voz. Aquele olhar.
Aquele menear de tronco. Aquele aceno.
Aquela mão, que tantas vezes toquei!
Amar é um sentimento humilde e o " Cagão " sabia amar!
Sabia dar, o que tinha!
Com fervor!
Se o "Cagão" ainda for vivo continuará a acenar aos seus cortesãos, provavelmente cada vez com mais dificuldade. Se já morreu ou está perto disso é caso para dizer: "Adeus amor".
ResponderEliminarApesar de trôpego, ainda anda por lá.
EliminarJulgo eu!
💚💚💚💚
Com mais ou menos amor nos lábios!
Olá amor, adeus amor... Ainda vive e ficará na memória da terra...
ResponderEliminarAs memórias de A-dos-Ruivos morrerão dentro das ruínas de suas casas abandonadas, sem proveito de ninguém. A desertificação completa-se pouco a pouco, tal como as falésias do Algarve que regressam ao mar.
EliminarTodos nós, que convivemos com ele, o recordaremos para sempre!
EliminarAssim acontece com a Beatriz, o Mouco e a Bacoca!!!