Tanta pressa, apenas p'ra passar o Natal. Rápido.
Todos querem ultrapassar a muralha. Velozmente.
Correndo ao lado da vida.
Maratona que só acaba quando tombarmos de cansaço!
Porquê, se afinal o Natal é amor?
É vida, é poesia, é música, é entretenimento, é surpresa, é superação!
Doces, bebidas, comidas e mais doces. E torta de laranja! Até fartar de tanto lamber.
Rabanadas, bolo rei, uma lampreia esquecida e torta de laranja!
Tudo a fugir-nos pela língua abaixo, como lastro, rendidos à caminhada que ainda agora começara.
Tanta azáfama, aglutinada num fim de semana, como se o Natal acabasse amanhã.
No parco lençol do ribeiro, que corre ao cabo do Carreiro do João Martins. Porque o tempo é de seca!
Éramos dezasseis à mesa.
Com alegria, as crianças.
Com alguma nostalgia, os idosos e os doentes.
Com presença, os que nem sequer lá estavam.
Com satisfação, todos.
Comemos e bebemos. Muito.
Bacalhau, perú e roupa velha. Tradição do Oeste.
E enquanto se degustava a refeição, as palavras ecoavam pelas paredes vazias, fazendo crer que tudo aquilo que se dizia e contava era pura verdade!
Foi uma consoada abençoada. Sem altercações, sem impropérios, sem conflitos. Na paz do Senhor.
À hora dos presentes, a serem distribuídos por uma pré - adolescente excitada, foi o delírio total.
Ouviu-se um Pai Natal, mal embrulhado em vestes vermelhas.
Um sino sem badalo, que fazia o seu serviço empurrado por um velho garfo.
E um " ho, ho, ho " do velho das barbas brancas, que se evadia pela chaminé da lareira que nunca fumou.
Todos estavam contentes. Uns mais que outros.
Todos faziam o seu papel naquele palco, onde as personagens não se podiam enganar.
Cantava -se o amor e a amizade.
Uma, duas vezes e seguiam-se mais presentes.
Cansados, fomos descansar até o dia seguinte, onde o perú nos queria fazer uma partida.
Não podia sair de casa sem a fatiota castanho dourado, que tinha sido encomendada, a propósito, para o evento natalício!
O alfaiate, por fim, lá fez um esforço derradeiro.
Conseguiu aprontar o perú que se mostrou razoável, como obriga a tradição!
Mais comida, mais bebida. Muita.
Para desmoer, alguém pensou em dar uma passeata até ao moinho do Toneca. Relíquia bem cuidada pelo moleiro.
Todos aderiram com vontade ou sem vontade.
E lá fomos até aos altos da aldeia.
Soprava um vento cortante que nos abanava mas o sol beijava-nos os cabelos e, em sussurro, convidava-nos a permanecer.
Algo nos fazia lembrar que no amanhã já não havia Natal.
Era outro dia, sem originalidade, sem efeméride, sem turbulência.
Com sol ou com frio.
Com luz ou sem ela. Quem sabe?
Com vontade de darmos uso ao Natal de sempre.
O Natal de todos os dias.
Com AMOR, para nosso conforto.
Na Última Ceia os Apóstolos de Jesus eram doze, e na tua Ceia de Natal 2016 éramos dezasseis. Será que a empatia de Maria é maior do que a do Filho de Deus?
ResponderEliminarA empatia de Maria, junto dos seus quinze convivas, é uma caixinha de surpresas a levedar no alguidar das filhós!
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