Tive um gato. De pelo luzidio. Bem tratado.
Gordo, bigodes imponentes, chamado Cinzentinho.
Aparentemente independente, nunca me pediu permissão para namorar.
Gostosa e mansamente, arrastava a asa a uma gatinha branca, nossa vizinha. Linda, por sinal, de seu nome Mimi.
Vinha ronronar-me os seus devaneios, os seus segredos, as suas traquinices, os seus amores.
Enrolava-se nas minhas pernas à procura do elemento vivo que o escutava.
Gracioso e amável, fazia questão de não partir os "bibelots" que por ali proliferavam. E eram muitos!
O meu gato e eu.
Eu e o meu amigo, quase irmão.
Companheiro de horas, dias e noites, aos pés da minha cama. Ou no sofá, onde eu também dormia.
No Verão, quando era pequena e ainda fazia a sesta, ele esperava avidamente o meu sono profundo.
Então, encetava estoicamente uma escalada até ao telhado, ponto de encontro com a sua Dulcineia. Às escondidas.
Não queria que eu tivesse ciúme.
Entendia a sua conduta e aguardava, serenamente, o seu regresso.
Com fidelidade e de olhos brilhantes, quando vinha, aninhava-se de novo no sofá ainda quente onde eu me encontrava.
Fazia o retrato do que se havia lá passado. Sem pormenores sórdidos!
Saltava e corria alegremente. Miava de contentamento
Não falava, mas a sua verdade era interminável.
Estava apaixonado. Havia uma gatinha que o amava.
Era correspondido. Que mais podia querer?
Foram muitos anos assim. Três, quatro, cinco, seis, talvez!
Dava gosto vê-lo brincar.
Apenas se zangava e azedava seriamente, quando o molhavam. Deitava as garras de fora e não nos brindava com o seu sorriso franco. Pelo contrário!
Mas depressa lhe passava a zanga.
Escondia-se debaixo da cama e quando reaparecia, mostrava excesso de garbo. Ufano, rabino, elegante e pomposo.
Um dia fugiu de casa, atrás da sua gatinha e o desfecho foi trágico.
Lá ficou o Cinzentinho estendido no asfalto. Morto, atropelado por um carro que nem sequer parou!
A Mimi ficou, certamente, à espera que o seu Dom Quixote a viesse buscar, para enriquecer a sua vida!
Mas ele não iria aparecer mais.
E ela não iria compreender a razão...
Pelos vistos o teu gato Cinzentinho não teve sete vidas e morreu estripado no primeiro atropelamento anónimo. O facto em si não teria importância, todos os dias morrem insectos, pássaros, quadrúpedes e bípedes que incautamente atravessam a rua ou a estrada, se não fosse ter sido um evento tão marcante na tua juventude. Como lenitivo para o teu desgosto, parte do princípio de que a Mimi rapidamente arranjou outro D. Quixote.
ResponderEliminarClaro que sim. Até seria incomum se assim não fosse.
EliminarApesar do velho adágio dizer " Mais vale só que mal acompanhado" nenhum de nós quer ficar sózinho!
A avó gostou muito. Nem acreditava que eras tu! 😃 Diz que tens que publicar...
ResponderEliminarA avó, já estou a ver, não me tem em grande conta!
EliminarMas que malandra!!!
Publicar, como ela diz, gostava mesmo muito.
Vamos ver!
Tive uma cadela de nome Nanette. Apareceu depois de muito tempo a pedir aos meus pais. Um dia, cheguei a casa depois da escola e lá estava ela, ávida por afecto. O antigo dono emigrou e deixou-a no canil para enfrentar a má sorte, mas o destino foi outro.
ResponderEliminarEra linda, um pelo preto brilhante, perfil de raça collie misturada com pastor alemão, mas mais baixinha. Foi companheira de muitas aventuras. Saudades dela.
Com uma cadela Nanette, com as características que relatas e com esse histórico de ter sido deixada no canil, de certezinha, que eu já tinha feito um escrito.
EliminarPor que não escreves tu?
Não é a minha praia ;)
ResponderEliminarJá tentaste???
EliminarProvavelmente não!!!