Paciência. Muita.
Todos os dias, horas, minutos, segundos.
Debruçada sobre a idade de minha mãe, contemplo aqueles olhos exaustos, bonitos, tristes, presos aos novelos de lã como quem agarra a derradeira curva da vida.
Mulher de grande ambição, disfarçada, abortou conscientemente seus desejos e sonhos.
O prazer ou a obrigação levou-a a estar ao lado do seu companheiro. Em todos os momentos.
Assim, trocou o bulício da cidade pela tranquilidade do campo, como quem desprende, com dificuldade, o espinho da roseira que lhe vai ferindo a vida.
Meu pai, em altura conturbada do país, deixou para trás um colorido final de carreira e rumou a uma pequena aldeia no Oeste Português.
Desertificada, quase sem vida, onde os cães ladram à passagem do vento fugaz. Onde os funerais ainda se fazem a pé!
Partiu há dois anos, desejando pacificamente que o final fosse rápido e tranquilo.
Não levava consigo culpas ou maldades, apenas o brilho do despertar de uma manhã de sol.
Julgamos, todos, que assim foi. Sereno!
Minha mãe continua connosco.
Espera-nos sempre mas só nos encontra aos fins de semana, feriados ou em algum dia especial. Ou nalguma efeméride.
Apesar disso, recebe já com pouco entusiasmo o beijo leve, o abraço brejeiro, o olá carregado de um sentimento profundo.
Então, nesse momento, é preciso amansar a irreverência da idade, contrariar a teimosia da infância, desfazer o peso dos anos, enfim, é preciso ter muita paciência!
Um belo texto dedicado à tua mãe, quando estás a pensar no teu pai. De qualquer forma todos vamos atrás uns dos outros, quer em vida, quer na morte, mesmo que os destinos sejam aleatórios do infinito que nos universaliza.
ResponderEliminarTens razão, " todos vamos atrás uns dos outros " aqui e ali, mesmo que os nossos destinos sejam imprevisíveis e fortuitos, num tempo ilimitado que nos abrange a todos.
Eliminar💜💜💜💜💜💜💜💜
ResponderEliminarAdorei os teus oito corações.
EliminarMas interessante está o comentário da tua irmã que até nem liga a estas coisas!
Vai ver!!! A
Que lindo texto Nazaré!! Grande beijinho para si com saudades das nossas muitas risotas...
ResponderEliminarNem imaginas como tenho saudades das nossas conversas sobre os programas passados na TV no dia anterior, sobre desporto, sobre música e arte, sobre tudo e tudo.
EliminarTenho saudades de verdade!
A idade trás alguns privilégios na atitude ;)
ResponderEliminarA idade traz, também, alguma sabedoria!
EliminarJá o padre Traquina assim o relembrou naquele 15 de Novembro longínquo, chuvoso (nem a chuva abençoou, nem o casamento se salvou!)... é preciso ter muita paciência... no trabalho, em casa, com o filho, com a avó, com a mãe, com o pai, com o marido, com os de sangue, com os emprestados... é um exercício diário!!! Como contornar isto? Nao dá, tenham lá paciência!!!
ResponderEliminarPois já foi há muito, muito tempo.
EliminarLembro-me do padre Traquina a discursar, do Armando a chorar, da Zélia a cantar, do Fernando a dançar e de ti a espalhar felicidade mas...afinal não deu. Paciência!!!
Minha Amiga, dominas como poucos a arte de dizer coisas relevantes usando poucas palavras. Além disso, os teus textos fluem, escorreitos e límpidos, numa aparente simplicidade habilmente construída com imagens e afectos, principalmente afectos, que nos tocam o sentir graças ao teu profundo conhecimento da alma humana que se revela a cada situação.
ResponderEliminarHá uma linha comum que percorre e une os teus textos. A tua escrita já descobriu o seu próprio estilo, o seu caminho, que a torna diferenciável e facilmente identificável face às restantes, isto é, conseguiu o mais difícil: já se emancipou!
Neste texto apresentas-nos uma reflexão serena, lúcida, sobre a finitude, como sempre sem dramas, sem espalhafato, humana apenas…
Parabéns, Maria da Nazaré Rocha, cronista exemplar!
Depois de ler o teu comentário, acredita, tenho medo que as palavras ao fluírem naturalmente não sigam o seu rumo certo.
EliminarGostaria, muito, de poder continuar a tocar-te.
Com uma fluidez de palavras que são uma característica tua, transporta-nos para um mundo de afetos, de realidades, até de quase certezas.
ResponderEliminarÉ preciso muita paciência sim ... até para nos "aturarmos" a nós mesmos. A idade não traz só irreverência, traz também sabedoria! Abracinho meu
A paciência faz, de facto, parte da vida mas nem todos conseguem abraçá-!a.
EliminarÉ preciso sermos condescendentes e saber ouvir.
É um exercício que deveríamos praticar diariamente.