terça-feira, 27 de setembro de 2016

Colégio Valsassina

Alguém me esperava com ansiedade e expectativa.
Não ouvi o sinal.
Não li a mensagem.
Por quê?
Porque aquele objecto louco e moderno, que nos leva a situações diabólicas e conturbadas, neste caso, tinha sido necessário.

Mas ela estava lá.
Sozinha, encostada numa rústica vedação de madeira.
De telemóvel em punho, ansiava por um rosto que não aparecia. O meu.

Com os meus níveis  de adrenalina em cima, cheguei.
A par do suposto  atraso, levantava-se a dúvida de que os relógios pudessem não estar em sintonia.
Estariam?
Ou seria mesmo o meu atraso motivado pelo drama que é o trânsito das nossas vidas?
Aquele ar angelical, de caracóis rebeldes, deixava-me sempre esfuziante mas depressa se desvaneceu o sorriso.
Faltava o saco do equipamento da dança.

Caminhámos para a esquerda, para baixo.
Para cima, para a direita. Escadas  e mais  alcatrão.
Ali, sem trânsito, com as ruas quase desertas, encontrámos algo no chão que a mim me  pareceu uma pedra.

Era um blusão.
Preto, perdido no meio do nada, chorando o fim que lhe coubera em sorte.
O esquecimento.

Mas ela, olhando-o com um laivo de ternura, agachou-se, acariciou-o e pegou-lhe sem palavras.
Ficaria ali à espera que alguém o colocasse no lixo ou, por mero acaso, nos perdidos e achados.

Contentes, já com o saco na mão, encaminhámo-nos para a saída onde, um avô amuado, nos esperava no carro.
Terminámos o nosso fim de tarde perspectivando um lanche, conversando de tudo um pouco, inventando temas e baralhando  palavras.

E os nossos corações, apaziguados,  sorriam ao diálogo que lesto se mantinha entre nós :

"... mas afinal porque é que nunca mais chegavas? "

8 comentários:

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    1. Tem lá paciência amor, a vida é mesmo assim!
      Amuado ou não és o maior!!!

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    1. Estes pequenos momentos, mesmo com alguma preocupação pelo meio, fazem a vida mais cor de rosa!

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  3. Dito assim, um qualquer dia de rotina, parece um capítulo de um livro extraordinário! Fica a vontade de ler a próxima página! Acho que está na hora de começar a escrever um livro.

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    1. Tens razão.
      Quando nos despojamos de pudores e passamos para o papel as intranquilidades das nossas rotinas, então podemos dizer que estamos a escrever um livro maravilhoso. O das nossas vidas.
      Resta saber se há coragem e sabedoria para o fazer!?!?!?

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