domingo, 27 de outubro de 2024

Amor


 Contigo na cama

Procuro a tua mão 

E o calor do teu amor

Sinto o perfume da relva cortada

Oiço os gatos lá fora


Acordada 

Num leito imenso

Naufragamos

Saudoso mar 

Em tempo de arco-íris 



sexta-feira, 23 de agosto de 2024

O meu jardim

O meu jardim é mais bonito que o teu

Lá derramo lágrimas que ninguém sabe

Lá cultivo amores que ninguém vê 

Lá enterrarei tuas cinzas

Bem perto da oliveira do canto

Onde os gatos brincam

Com elas faço um altar para o mundo

Onde o inverno se transforma em lembrança

E o vento traz de volta a tua voz 


quinta-feira, 9 de maio de 2024

Quinta-feira da espiga


 No verde do meu jardim

Grito silêncio 

Pensamentos enterrados na relva

Ressomam à enxada do jardineiro

No verde do meu jardim

Grito saúde 

Margaridas

Papoilas

Trigo e ramo de oliveira

À tarde vou ao campo

Arranjo o ramo

E grito felicidade

segunda-feira, 11 de março de 2024

Insónia

 4.00 h da manhã 

Acordo 

Levanto-me

Bebo um gole de água com bolachas

Dou meia dúzia de passos e volto para a cama

O sono não vem


5.00 h da manhã 

Um pingo perdido numa torneira qualquer 

Velha ferrugenta mal fechada 

Não dá tréguas 

O sono não vem


6.00 h da manhã 

Ontem também não dormi

As meninas do andar de cima

Ensaiavam danças modernas a altas horas 

Com saltos e risos muitos

 Numa alegria irreverente de juventude

O sono não vem


7.00 h da manhã 

O malvado ping ping ping continua

Mais fraco

Menos audível 

Corrói-me os neurórios enfraquecidos


8.00 da manhã 

Outrora ouvi falar na " tortura do pingo "

??? Alguém se lembra ???

Tenho muito sono

Vou tentar dormir e ESQUECER



sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Ano Novo

 No início do ano

As palavras tossem

O comprimido cai

Desafia-me a paciência 


Suspensa pela incógnita do tempo

Reinvento dias quase perfeitos


Amanhã vou ao médico 


quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Ninguém sente o que escrevo

 Ninguém sente o que escrevo

Escondo o caderno na lantana já sem flor

E o lápis no buraco da árvore 

O pássaro esfomeado 

Leva no bico os pontos dos " is "

Todos

Não consigo completar as palavras 

Nem as estrofes 

Dilui-se o pensamento na relva húmida 

Ninguém sabe o que escrevo

Só tu

Mão escondida na oliveira



sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Baleal

Atordoada

Atravesso no local habitual

Degusto meia dúzia de degraus polvilhados de fina canela

Enterro-me na areia escaldante

E num mar gelado que me fustiga as pernas 

Contente

Canto baixinho para que ninguém me ouça 

Danço pequenos passos ao sabor da rebentação 

Ao longe vislumbro a  Berlenga 

Risonha e poética 

Olho de novo o mar

Com a brisa que se faz sentir ao fim do dia 

Fico a cobiçar a mulher gorda 

Que de soslaio me sorri

E corre a  mergulhar