No canto da minha cama
Adormeço sonhos
Azuis
Rosa
Cinza
Rezo à Virgem Maria
A Deus
A Cristo
E a todos os santos
Adormeço desejos enganados de esperança
De madrugada
Quando o galo canta
Adormeço os males do mundo
E celebro o nascer de um novo dia
No canto da minha cama
Adormeço sonhos
Azuis
Rosa
Cinza
Rezo à Virgem Maria
A Deus
A Cristo
E a todos os santos
Adormeço desejos enganados de esperança
De madrugada
Quando o galo canta
Adormeço os males do mundo
E celebro o nascer de um novo dia
Margarida ... a prima que alguns gostariam de ter tido.
Estava todos os dias lá, a seguir ao almoço.
Comigo, com a minha mãe, com as minhas filhas ... sim, especialmente com elas, as meninas!
Tinha pouco dinheiro, e o pouco que tinha era-lhe sugado pela mãe, com quem vivia e a quem tinha que obedecer como se fosse uma criança.
Divorciada, de idade pouco perceptível, tinha uma filha adulta que pouco ou nada lhe ligava. A Maria.
Seca, franzina, sem apelo nem agrado, vestia quase sempre uma saia de tecido espinhado preto e branco, que lhe caía corpo abaixo, evidenciando a falta de curvas. Na cintura, um alfinete de dama apertava o cós que lhe sobrava, com a desculpa de que perdera o botão.
À minha mãe fazia recados. Muitos.
A mim, adorava-me, como qualquer crente venera o mistério de Deus.
Ao meu pai, escutava-o respeitosamente e colhia das suas palavras sábias alguns ensinamentos úteis.
Com as meninas, rejubilava quando as via. Eram o seu entretenimento primeiro. Depositava nelas um carinho mal amanhado, que não soube ou pode dar à sua própria filha.
Todos os dias, antes de chegar a nossa casa, com umas parcas moedas guardadas no corpete, comprava dois pequenos chocolates para dar às meninas, que escondia (para a mãe não ver) nas palmilhas dos sapatos. Cambados de tanta velhice.
Entrava em casa e cumprimentava todos com um ridículo mas afectuoso " Trolaró ".
Sorrateiramente fazia a boa acção do dia, satisfeita por poder dar prazer e alegria, com a dádiva dos Táxi's. Assim se chamavam os chocolates.
Hoje, volvidos muitos anos, no manto da noite recordei este episódio que me deixou nostálgica.
Sem monumentalidade.
Apenas com a certeza do afecto que somos capazes de nutrir por alguém.
" Trolaró ".
No espelho d'água
Vejo-me livre do mal
Despida de medo
Vestida de amor
Irrequieta
Misturo-me com a natureza
Contemplo o céu
Espero que a noite caia
E as estrelas me beijem
No palco da vida
Represento
Tudo o que digo é pouco
O nada que se evola tem muito por contar
Tudo-nada
Nada-tudo
Estranha forma de brincar com as palavras
Cénica
Teatral
Engenhosa
Ouço palmas que me inebriam
Conto-te tudo
Nos bastidores
Guardo palavras íntimas numa bola de cristal
Escondida no meu peito
P'ra que ninguém descubra o nosso
Segredo
Viajo
A vida pulsa
O céu ri-se azul
As nuvens brancas
Lembram-me farófias
O castanho da terra ainda árida
Sepulta minhas dores
O verde das árvores
Desperta-me a esperança
O cinzento da estrada veloz
Leva-me a um destino certo
Tamborilo na estrada da vida
As curvas e contra-curvas do imprevisto
Ao longe
Uma nuvem cinzenta
Por cima do sol na montanha
Anuncia chuva
Que rega o Outono
Por agora
Ainda dourado
Olhos rasgados de amêndoa
Em águas do conhecimento
Navegam ânsia de pesquisa
Pelas manhãs risonhas
Gotas de água salgada
Acordam corpos inertes
Mudam gestos e atitudes
Agitam-se as mentes
Para que a vida continue
Encostada ao Senhor Jesus do Carvalhal
Acalmo anseios
Relembro momentos
Procuro a felicidade adormecida
Espero o toque do sino
E a porta do Santuário aberta
Para que o padre se mostre
E me veja a sorrir
Luz
A minha varanda tem sombra e sol
Cor e música
Sonho e saudade
A minha varanda tem amor e tristeza
Solidão e vizinhança
Estudo e ciência
A minha varanda tem um reino de luz
Pálidas madrugadas
Noites de insónia
O poema é vermelho
O medo é vermelho
O diabo é vermelho
O amor é vermelho
O sonho é azul
O céu é azul
O planeta é azul
A vida é arco-íris
E
Contudo
O poema é vermelho como o sangue
Enquanto o poeta quiser
Vi pirilampos a luzir
Vi estrelas a brilhar no céu
Vi sonhos à porta dos meus olhos
Vi magia no universo
Vi amor nos corações
Vi histórias em cima da mesa
Promessas
Súplicas
Cânticos num amanhã por devir
Acordo com música
Malmequeres e alecrim
A luz da manhã abre-me os olhos
No quarto
As notícias do dia despertam-me
Lá fora
O jardim espreguiça-se
Minha alma
Sedenta de luz
Espera
Entre a ramagem
Um sussurro do dia
Que me faça sorrir
Quero viver dentro do sol
Numa casa sem porta
Para entrar e sair quando quiser
E esperar a promessa do amanhã
Contigo
A derreter de amor
O tempo voa
Aqui acolá
Saltita de
Medo
Esperança
Incerteza
Paciência
Milagre
Alegria
Solidão
Optimismo
Voa o tempo
Foge de ti
Reclinada no meio dia cinzento
Desenho um beijo meio rosado
Frutado pelo morango meio maduro
Que me sussurra a meia voz
A meio da salada de fruta
Hoje é Dia do Beijo
O gato passeia no telhado
O vizinho passeia na varanda
Os meus olhos passeiam no sol
No horizonte da cidade confinada
Ouço sirenes ao longe
O dia acaba
Cansada adormeço
Sonho ventos marés e sorrisos
Outro dia nasce
Que te deitas comigo
Sê clemente
Aperta-me a mão
Liberta o stress dos meus dias
Faz-me acreditar
Que amanhã o céu está azul
Chove música de Mozart
De mãos dadas dançam nossos corações
Fim do ano
Foguetes rebentam no ar
Nossas bocas crepitam desejo
A noite continua
Sem pressa nem alvoroço
Até que o sol nasce
E nos abraça
Procuro nos teus olhos
A paz que me foge
Só encontro
O Inverno do meu jardim
Indiferente
À minha passagem