sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A casa ...

.. da vizinha Ermelinda!

Ruínas  contíguas à casa de minha mãe.
Ali, nascimento e morte, alegria e desgosto, confusão e paz, se viveram durante muitos anos.
O ambiente era rural, grotesco, humilde mas agradável.
Espelhado num espaço exíguo que lhes era conferido.
O marido da vizinha Ermelinda era o " gago ", de alcunha  tão fortemente arreigada que me fez esquecer sua graça!
Trabalhava o campo bem, e fazia filhos ainda melhor.
Todos sãos , escorreitos, bonitos,  simpáticos e pobres.
Lurdes, Augusta, Maria José e Alice, esta última , de quem eu era muito amiga.
Apesar dos muitos pretendentes, entitulava-se uma solteirona por vocação.
Mas a vida trocou-lhe as voltas.
Modificou-lhe a convicção.
Acabou por casar tarde e morrer cedo.
Não gozou, por muito tempo, as carícias do homem que a amou e lhe construiu à porta do ventre, um filho, que ainda viu crescer até à idade adolescente.
Mais tarde, esteve emigrada em França, para compôr pecúlio e poder restaurar a pequena casa que a viu nascer, crescer, casar e morrer.
Triste ilusão a da Alice!
Morreu, sem mais aquelas.
Foi, ao que na altura se dizia, um ar que lhe deu!
Não chegou a ver o seu sonho realizado e os seus descendentes, deixaram a casa entregue à sorte dos gatos vadios, alimentados pela vizinhança.
Quase nada tem resistido ao tempo.
Apenas a hera, infestante, sobe na parede da casa, pertença da vizinha Ermelinda e de minha mãe.
Do " gago ", da Alice e suas irmãs, da vizinha e sua bonomia, apenas resta a lembrança de um sonho de menina.
Com pedaços de ilusão, pedras feitas pó, madeiros carcomidos, ratos bajulando  passantes, da janela sussuram-me um segredo.
O amor só é eterno, quando diluído na saudade!